Oi! Você conhece o Valdo? Talvez ele more em sua cidade, seu bairro e até mesmo quem sabe, na sua rua! Valdo não teve internet, jogos on-line, blogs ou e-mails.
Mas conseguiu fazer de seu pequeno mundo um ótimo recanto de histórias...
A PROFESSORA
Cursava a oitava série pela segunda vez, não, nunca fui um repetente, mas naquela época aprendia com os amigos que o sabor das loiras geladas nas quintas e sextas na esquina da Julio de Mesquita com General Osório, era bem mais gostoso que o cheiro de giz e análise sintática. Isso culminou em minha primeira desistência em um ano letivo.
Posso dizer que durante o tempo que estudei, tive vários professores que marcaram minha vida. Para mim é uma das profissões mais nobres que existem, principalmente em nosso país que tanto desvaloriza esse profissional e muitos acabam exercendo essa profissão por ideal e não apenas oficio.
O ano em questão marcou muito, não só pelas músicas da época – ainda tocadas até hoje, mas pela amizade inocente que tínhamos. Amigos que existem até hoje, no meio de tantos que conhecemos posteriormente, mas sem as mesmas raízes e histórias para contar.
Tivemos ótimos professores neste ano e em sua maioria do sexo feminino. Todas eram jovens e uma delas – a que lecionava história – tinha o costume de se sentar sobre sua mesa, de perfil e com uma das pernas sempre acima da outra exibindo suas belas curvas.
Vivia literalmente “babando” naquilo e católico de carteirinha, condenava meus impulsos tendo que me confrontar com meu subconsciente, até que um amigo dissesse que se acabava no banheiro durante o intervalo após assistir suas aulas.
Isso foi um alivio, não era o único “monstro” da face da Terra, e nem chegava a conseqüências de fazer “sexo manual” com ela, como meu amigo. Mas foi bom saber que não era o único que a desejaria em uma cama, embora talvez nem soubesse ao certo o que fazer se um dia essa oportunidade chegasse.
Mas não é dessa professora que falarei a seguir, aliás sempre fui muito “do contra”: Enquanto dizem que o vermelho nas mulheres enlouquece os homens, sou apaixonado por mulheres que vestem branco. Enquanto admiram e sonham com musas do carnaval, suas curvas e silicones além é claro as “magrinhas” do mundo fashion, prefiro as mulheres comuns, com seus defeitos e qualidades, desde que natural.
Por isso que a professora citada não era a de História, com sua exuberância e pernas que me quebrariam em dois, mas uma baixinha, também de coxas grossas que lecionava matemática...
Seu nome era Helena. Não, não mesmo! Não sou fã do Manoel Carlos e essa pessoa era real.
Com cabelos ondulados até acariciar os ombros, pequenas sardas no rosto e olhos negros com cílios avantajados, Helena possuía uma paciência de monge. Nunca alterava seu tom por mais que a provocassem e até eu – revoltado com uma de suas difíceis tarefas – fui surpreendido com o tom carinhoso de sua resposta após uma reclamação áspera.
Nunca a vi gritar, embora muitos alunos de quinze anos com mentalidade de sete merecessem. Sempre piscava duas vezes em velocidade lenta antes de responder à uma “ofensa” e tinha milhares de defensoras em seu nome em nossa classe.
Comecei a achar que talvez fosse solitária, que houvesse vazio em sua vida a ser preenchido. Apesar de ser quase dez anos mais novo, sempre fui alto desde a adolescência e isso me fazia pensar que poderia ser este homem que ela tanto precisava.
Este é mais um dos “defeitos” que possuo em relação aos outros homens – gostar de mulher mais velha. Descobri isso já no primário, quando percebi que o carinho que sentia pela minha primeira professora me causava arrepio, aumento de batimentos e dificuldades de “fazer pipí”.
Talvez Helena precisasse de mim para colocar os garotos bagunceiros em seu lugar. Para levá-la para sair e depois deixá-la em casa. Para um beijo em sua porta e depois partir cheio de alegrias – a pé, é claro, pois só fui aprender a dirigir seis anos depois e ter um carro em sete.
O ano voou e matemática era minha matéria predileta. Adorava ver sua paciência em esperar os alunos retardatários antes de apagar a lousa, sentando-se na quina de sua mesa, efeito que esticava sua calça jeans e realçava a marca de sua calcinha – Ah! Talvez coubessem duas professoras de história dentro dela.
Fui o primeiro da classe em sua matéria – e em terminar logo de copiar as tarefas do quadro negro. Antes do quarto bimestre, estava aprovado e mesmo assim não perdia nenhuma aula posterior e me orgulhava em exibir as notas subseqüentes que não mais se faziam necessárias.
Com as férias, não pude ver mais a professora e suas piscadas suaves dominavam meus sonhos.
De tanto desejar, um encontro repentino finalmente aconteceu:
Estava no centro da cidade, era Office-Boy e esperava o semáforo de pedestres liberar a principal avenida daquele local, quando a vi deixar o banco que era o meu destino e também aguardar a troca de luzes para vir em minha direção.
Não havia me visto de imediato e quando olhou para mim, o tempo pareceu parar e os breve minutos do semáforo pareceram-se horas.
O som de uma canção romântica do Cutting Crew tocava em minha mente, sendo interrompida brutamente como se alguém tivesse puxado o braço da vitrola:
Um homem claro, franzino e com uma breve calvície deixou o mesmo banco, chegando à faixa de pedestre e a puxou pelo braço.
Apesar do movimento de um horário de pico, pude ouvir claramente sua voz:
“Vamos logo! Não tenho o dia inteiro!”
Helena olhou para mim e os olhos negros e brilhantes tornaram-se tristes. Arregalou-os numa velocidade jamais presenciada e fez-me um sinal negativo com a cabeça como se me implorasse para não fazer algo:
“Anda! Parece uma lesma!” – disse o rapaz, que parecia zangado.
Helena deu-lhe as mãos no momento que o sinal abriu. Bárbara foi a brutalidade com alguém que sempre presenteou seus inferiores com sabedoria e ponderância, que fiquei inerte, atrapalhando quem passava até que o semáforo fechasse novamente.
Acho que chegaram a passar por mim, mas a cena que vi foi outra. Era como se o rapaz lhe tivesse desferido um soco que a fizesse ir ao chão. Em seguida dado vários chutes na barriga e por fim grudado-lhe os cabelos e a arrastado escada acima até sumir na entrada da agência.
Na verdade sumiram na multidão como um fantasma e nunca mais a vi novamente, principalmente por ingressar no segundo grau e mudar de colégio.
Hoje muitos anos passados, posso dizer que sou um homem feliz. Não sofro mais por ninguém, pois meu coração está quase totalmente falecido devido a tantos golpes impiedosos que levou durante sua saga romântica.
E é do fundo desse meu coração em necrose que desejo à Helena que também seja feliz onde quer que esteja.
Querem saber? Desejo nada!
Quem mandou escolher o cara errado?
Arte: Paula Frade
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